Depois de completar seu ciclo, as plantas de cobertura ficam sobre o solo, formando uma camada de palha.Foto: Divulgação/Epagri
A conservação do solo e da água cresce com força na agricultura catarinense: esse tema é prioridade no setor e recebe o incentivo de diversas políticas públicas. Uma das que se destacam é o Kit Solo Saudável , lançado em 2019 pela Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária para facilitar o acesso dos agricultores às sementes de adubos verdes (também conhecidos como plantas de cobertura) e outros insumos para a melhoria do solo.
Com o incentivo da Epagri nas propriedades rurais de cada município, o número de beneficiados pelo programa cresce ano a ano. De 2022 para 2023, o total de famílias que acessaram o Kit Solo Saudável saltou de 652 para 1.025, somando R$3,9 milhões e alcançando 157 municípios catarinenses.
Plantas de cobertura são aquelas cultivadas com o objetivo de proteger o solo contra a erosão, além de melhorar as condições físicas, químicas e biológicas dele. O uso dessas espécies é um dos pilares do Sistema Plantio Direto: depois de completar o ciclo vegetativo, elas são derrubadas e ficam sobre o solo, formando uma camada de palha. Na sequência, vem o cultivo das culturas comerciais, mantendo o solo coberto.
As plantas de cobertura mais cultivadas no inverno em Santa Catarina são aveia, nabo forrageiro, centeio, azevém, ervilhaca e tremoço. No verão, os produtores usam milheto, capim-sudão, crotalária, mucuna e trigo mourisco. Mas nem sempre os produtores encontram sementes com qualidade, variedade e preço acessível. “Frequentemente, as opções ficam restritas a poucas espécies, como aveia-preta para o cultivo no inverno e milheto para o verão”, explica Juliane Knapik Justen, coordenadora do programa de Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental da Epagri.
Com a participação da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro), o programa Kit Solo Saudável busca incentivar o mercado catarinense a disponibilizar essas sementes e aumentar a oferta aos produtores, com facilidade no pagamento. Em 2023, ao todo, 45 cooperativas e lojas agropecuárias se credenciaram para participar.
Os kits contêm sementes de, ao menos, duas espécies ou cultivares de plantas para adubação verde, além de insumos para a melhoria do solo. Para ter acesso, o agricultor deve procurar a Epagri de seu município. Os técnicos orientam sobre o acesso ao programa e elaboram um projeto para aquisição dos materiais, de acordo com as necessidades da propriedade e a disponibilidade da região.
Com a Autorização de Retirada em mãos, o agricultor busca seu kit diretamente nas cooperativas ou empresas credenciadas. Os técnicos da Epagri ainda assessoram e acompanham os agricultores nas práticas na lavoura. O valor do kit é de até R$5.720, com dois anos para pagar, sem juros, com parcelas anuais. Se o produtor efetuar o pagamento total no vencimento da primeira parcela, tem direito a um desconto de 30% sobre o valor.
Estima-se que Santa Catarina tenha 1,5 milhão de hectares cultivados em plantio direto, principalmente em lavouras dos quatro principais grãos (soja, feijão, milho e trigo) e hortaliças. A Epagri é a maior incentivadora dessa prática no Estado, desenvolvendo tecnologias e orientando as famílias agricultoras.
Em 2023, a Empresa atendeu 8,8 mil famílias catarinenses em temas como plantas de cobertura, práticas de conservação do solo e Kit Solo Saudável. No mesmo ano, lançou a publicação gratuita “Plantas para adubação verde e cobertura do solo” .
Essas informações, que ajudam o produtor a escolher as melhores espécies para cada caso, também estão disponíveis no aplicativo gratuito EpagriMob . As vantagens do uso das plantas de cobertura são rapidamente percebidas na qualidade do solo e no desempenho das culturas nas lavouras.
Tanto vivas quanto na forma de palha, elas protegem o solo da erosão, facilitam a infiltração da água e também servem como isolante térmico, protegendo as culturas comerciais do excesso de calor. Essas plantas ainda formam a matéria orgânica que promove a estruturação do solo, a retenção de umidade e o aumento da porosidade. Elas servem de abrigo para a fauna do solo e, através da decomposição feita por esses organismos, fornecem nutrientes para as plantas. Como se não bastasse, as plantas de cobertura ainda reduzem a incidência de pragas, doenças e plantas daninhas na lavoura.
As tecnologias do plantio direto também integram o Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono ABC+SC. Ele foi construído pela Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária para tornar a agricultura catarinense mais sustentável e adaptada às mudanças climáticas.
Com o plano, Santa Catarina assumiu o compromisso voluntário de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), além de se adaptar às mudanças climáticas para a próxima década. O Plano ABC+SC pretende gerar um potencial de mitigação de emissões de GEE de 86,78 milhões de toneladas de carbono até 2030.
A meta é aumentar em 126 mil hectares a área manejada sob Sistema Plantio Direto (SPD) e em 7,7 mil hectares a área sob Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) em Santa Catarina até 2030. Estima-se que o plantio direto de grãos possa contribuir na acumulação de 0,97 toneladas de carbono equivalente por hectare e o SPDH participe com 3,67 toneladas por hectare.
A região de Palmitos, no Extremo Oeste Catarinense, foi a que beneficiou mais produtores rurais com o Kit Solo Saudável no último ano. A Epagri atendeu 174 famílias atendidas com essa política pública em 2023. Dentro da região, o município de Saudades teve 55 famílias beneficiadas. “Foram 80 cotas, suficientes para uma área de 500 hectares”, destaca Sidinei Weirich, extensionista da Epagri.
Sidinei conta que as lavouras mais comuns no município são de milho safra e soja safrinha. “A maioria das famílias colhe o milho em janeiro, em seguida planta a soja safrinha e colhe em maio. Na sequência, entram as plantas de cobertura”, explica.
Com incentivo da Epagri, as lavouras em plantio direto estão se expandindo em Saudades e contribuindo para tornar a agricultura mais sustentável. Em uma região com áreas declivosas, as plantas de cobertura ajudam a controlar a erosão e também a reduzir a presença de plantas daninhas, diminuindo o uso de herbicidas e o custo de produção da lavoura.
Um dos praticantes do plantio direto é o agricultor Asir Both. Parceiro da Epagri há anos, ele acessa o programa Kit Solo Saudável desde 2021. Em 2023, ele garantiu, mais uma vez, sementes de aveia e nabo forrageiro para melhorar o solo nas lavouras de milho, soja e melancia. Mas o plantio direto não é novidade na propriedade: consciente da necessidade de conservar o solo, Asir usa plantas de cobertura há mais de 20 anos.
“Se chover muito em uma lavoura de milho ou soja e o produtor não tiver cobertura do solo, a água carrega junto a terra adubada e a semente, e é preciso plantar tudo de novo. No plantio direto, mesmo que venha uma chuvarada, a gente fica mais tranquilo de que não vai perder aquele investimento”, defende.
Além de praticar o plantio direto em seus 34 hectares de lavoura, Asir tem um terço das lavouras com terraceamento. Essa é outra prática conservacionista que a Epagri difunde para reter a água no solo e evitar a erosão. “No ano passado tivemos muita chuva no município e deu bastante dano na lavoura. Mas com certeza teríamos perdido tudo se não fosse a cobertura do solo”, finaliza.
Por Cinthia Andruchak Freitas – Jornalista da Epagri
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