Ação Social Bahia
Prefeitura inicia processo de autorreconhecimento da comunidade do Beco de Dola como quilombo
A primeira reunião aconteceu no terreiro de candomblé do Beco de DolaCertificar, através de documento oficial da Fundação Palmares, a comunidade do...
13/04/2022 14h50
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Prefeitura Mun. Vitória da Conquista - BA
A primeira reunião aconteceu no terreiro de candomblé do Beco de Dola

Certificar, através de documento oficial da Fundação Palmares, a comunidade do Beco de Dola, localizado no bairro Pedrinhas, como Quilombo Urbano e Patrimônio de Memória Conquistense é o objetivo do processo de autorreconhecimento iniciado pela Prefeitura de Vitória da Comquista, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes).

Neste sentido, a Coordenação de Promoção da Igualdade Racial (Copir), da Semdes, que está à frente do processo, realizou um encontro, ontem (12), com membros da família de Maria Petronilia (Vó Dola, falecida em maio de 2006) para obter elementos que permitirão a construção dos documentos que serão encaminhados à Fundação Palmares.

Os representantes da família falaram sobre seus hábitos de alimentação, sua arte – como samba de roda e a escola de samba União do São Vicente -, o trabalho feito pela comunidade – como  a quebra das pedras para vender, cata de café em fazendas da região, carregar água, empregada doméstica, diarista -, sua religiosidade – como candomblé e a romaria a Bom Jesus da Lapa e à gruta da Mangabeira; e a escolaridade.

Continua após a publicidade
 Laís fala da importância da certificação

Segundo Lais Gonçalves Sousa, neta de Dola, no último levantamento, realizado em 2010, os descendentes dela, já somavam mais de 300 pessoas naquela época, mas este número é muito maior hoje. Para Laís, o reconhecimento é uma forma de honrar a história de sua vó.

“Além do reconhecimento do Estado, a nossa alegria é saber que a memória de Vó Doula continuará viva, que a estrela dela nunca vai deixar de brilhar, que a estrela dela sempre vai existir em cada canto, que qualquer pessoa que procurar saber, olhar na internet, vai saber da história de vida de vó Dola e da resistência que somos”, ressaltou Lais.

Continua após a publicidade

O processo de certificação deve durar, no máximo seis meses, e depende da vontade da comunidade, manifestada em uma carta que será encaminhada à Fundação Palmares.

Com o reconhecimento, além da preservação da memória, a Coordenação de Promoção da Igualdade Racial busca alcançar alguns objetivos específicos: tornar visível a comunidade do Beco de Dola e a sua importância e presença na memória fundadora da cidade; permitir  visibilidade por parte do poder público, através de documento legítimo certificando sua importância social e o fato de estar habilitada a receber recursos, ações e políticas públicas para a sua manutenção e a manutenção dos seus costumes; iniciar um debate com a população sobre a importância do tombamento daquela comunidade pelo IPHAN ou IPAC, considerando o seu protagonismo na construção de uma ideia de sociedade conquistense, principalmente através das suas  participações nos carnavais a partir dos anos 1950 até os anos 1980; abrir caminhos para contatos mais estreitos entre a academia e as comunidades periféricas, numa relação de colaboração mútua; estreitar as relações entre poder público e comunidades periféricas, minimizando conflitos e apresentando alternativas de intervenções participativas.

Continua após a publicidade
Objetos que simbolizam a história de Vó Dola e do Beco
Monalisa Cirino mediou a conversa

O processo de certificação deve durar, no máximo seis meses, e depende da vontade da comunidade, manifestada em uma carta que será encaminhada à Fundação Palmares.Atualmente, Vitória da Conquista conta com 20 quilombos reconhecidos pela Fundação Palmares. Em 2004, o Governo Municipal chegou a identificar 42 comunidades e até 2012 foram certificadas 20. Mas, esta é a primeira vez que o autorreconhecimento está sendo realizado pela Semdes e é o primeiro reconhecimento de um quilombo urbano, de acordo com o historiador e técnico da Copir, Afonso Silvestre.