Educação Cívico-Militar
NÃO ÀS ESCOLAS CÍVICO-MILITARES QUE TRANSFORMAM O ENSINO EM AMBIENTE DE QUARTEL.
O que é uma escola cívico-militar?
22/05/2024 21h25
Por: Colunista Fonte: Fernando Alcoforado*
Foto: Reprodução Internet / APP Sindicato.org.br

Em uma sessão com protestos e prisões, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) aprovou, nesta terça-feira (21/5), a criação de escolas cívico-militares. O projeto de autoria do governo bolsonarista de Tarcísio de Freitas foi aprovado por 54 votos favoráveis e 31 contrários. A Polícia Militar de São Paulo usou de violência física e gás lacrimogêneo para reprimir os manifestantes. As organizações estudantis que participaram da manifestação classificaram a aprovação do projeto de escolas cívico-militares como parte do ataque à educação e à ciência paulistas, promovido pelo governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo. Com sua aprovação pela Alesp, o programa da educação cívico- militar será desenvolvido sob responsabilidade das secretarias estaduais da Educação e da Segurança Pública de São Paulo.

O que é uma escola cívico-militar? Trata-se de uma escola cujo ensino é mantido pelas secretarias estaduais de Educação, que continuariam responsáveis pelo currículo escolar, e a disciplina é mantida por policiais militares no ambiente escolar. As escolas cívico-militares tendem a enfatizar a disciplina e a hierarquia, semelhantes às instituições militares. Os alunos são esperados para seguir regras rigorosas e mostrar respeito pelas autoridades escolares. Um dos principais problemas das escolas cívico-militares é a militarização do ambiente escolar. Ao introduzir militares na administração e na rotina diária das escolas, existe o risco de que valores e estruturas hierárquicas associadas às forças armadas e polícias militares se sobreponham aos princípios de uma educação civil. O Programa de Escolas Cívico-Militares busca realizar o controle social das camadas mais pauperizadas da sociedade, usando adestramento comportamental baseado na hierarquia e disciplina militares.

Na escola cívico-militar busca-se gerar associações entre ordem (uniformização), disciplina (submissão a um mesmo percurso formativo), civismo (valorização dos símbolos pátrios), ritualística militar (mimetismo de ordem unida, cerimônias, nomenclatura militar para os alunos, etc.) e meritocracia (premiações para quem mais se destacam) como responsáveis por bons resultados em testes. Em termos de valores, busca-se a reprodução de discursos conservadores, notadamente aqueles que destacam a necessidade de retomar a organização social tradicional (considerada ‘natural’) diante da degeneração que caracteriza a sociedade moderna. A família atual é considerada insuficiente na sua prática social, e os militares são identificados como os agentes capazes de proporcionar acolhimento, diálogo, servindo de referência para a vida em sociedade. Os que defendem a escola cívico-militar consideram que a organização e a disciplina por parte dos estudantes é fundamental para o processo de aprendizagem.

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Atenuar a violência na periferia tem sido apontado como uma motivação para a militarização das escolas, que traria segurança para os discentes, docentes e família. Entretanto, é preciso considerar que a polícia chamada para impedir a violência na escola é a mesma que não consegue entregar bons resultados à sociedade em relação às políticas públicas de segurança para as quais ela foi efetivamente criada e existe. A violência não é criada dentro da escola, mas se reflete nela. Aumentar o número de policiais e de armas em circulação na comunidade escolar não resolve o problema da violência contra a escola e nem o da segurança pública. Não às escolas cívico-militares. Escolas não são quartéis! Que a Educação seja libertadora dos seres humanos que, ao interpretar o mundo, possam transformá-lo!

  • Fernando Alcoforado, 84, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, do IPB- Instituto Politécnico da Bahia e da Academia Baiana de Educação, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).
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