Brasil Abim paralela .
SJSP, FENAJ e ABI pedem ao STF a divulgação da lista de jornalistas que foram espionados por ‘Abin paralela’.
Departamento Jurídico do SJSP preparou petição para o Supremo afirmando que a espionagem ilegal de jornalistas pode ferir o direito constitucional ao sigilo de fonte.
26/02/2024 21h15
Por: Fábio Costa Pinto Fonte: Redação - SJSP / Reprodução
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil / Montagem SJSP

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), juntamente com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), protocolou no dia 23 de fevereiro, sexta-feira, um pedido ao Supremo Tribunal Federal de divulgação dos nomes dos jornalistas que foram espionados ilegalmente pela chamada ‘Abin paralela’.

O esquema criminoso de monitoramento de jornalistas, autoridades públicas e políticos se tornou público no dia 25 de janeiro quando a Operação Vigilância Aproximada, realizada pela Polícia Federal, executou 21 mandatos de busca e apreensão em endereços ligados aos suspeitos de fazerem parte de uma estrutura paralela dentro da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, durante o governo Bolsonaro.

Thiago Tanji, presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo (SJSP) explica que decidiu-se entrar com esse pedido porque ao tomar conhecimento da investigação que escancarou a história de uma “Abin Paralela” a serviço do governo Bolsonaro para espionar ilegalmente opositores, políticos e jornalistas, se entendeu que é fundamental que essa história seja esclarecida e que se conheça a extensão do número de jornalistas espionados. ‘Com isso, teremos a dimensão dos crimes cometidos pelo governo Bolsonaro em relação a aparelhar o Estado para seus intentos criminosos, antidemocráticos e que claramente buscavam a perpetuação do seu poder’, completa Tanji.

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Dentre os objetivos do pedido de divulgação dos nomes dos profissionais de comunicação que foram espionados, estão também poder compreender por quais motivos eles foram ilegalmente espionados e qual era o objetivo das pessoas envolvidas nessa arapongagem. ‘Certamente o objetivo era ter acesso às fontes de informações desses jornalistas, e se isso se comprova é uma grave violação ao direito constitucional do sigilo da fonte’, destaca Samira e Castro, presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).

Para Octávio Costa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), as atividades da Abin Paralela foram ilegais e criminosas e um ostensivo ataque à liberdade de imprensa. ‘O objetivo da espionagem e das escutas era um só: intimidar jornalistas que apontavam os crimes e os abusos do desgoverno Bolsonaro. Ao quebrar sigilo das fontes e fazer devassa nos dados pessoais, o que se queria era ameaçar e calar os profissionais de imprensa. E sem imprensa livre não há democracia, enfatiza Octávio.

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O embasamento jurídico do pedido se dá essencialmente nesta questão do direito constitucional ao sigilo à fonte no exercício do fazer jornalístico, bem como o direito à privacidade de todo cidadão brasileiro. Este não é o primeiro pedido ao STF de divulgação da lista de espionados na “Abin Paralela’, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco já solicitou a divulgação dos nomes de parlamentares, assim como o Grupo Prerrogativas também pediu a divulgação da lista completa, mas ao que diz respeito exclusivamente à violação ilegal do sigilo de jornalistas, esse é o primeiro documento que se tem conhecimento.

Para o presidente do SJSP, a utilização de maneira ilegal e abusiva de serviços de espionagem é uma clara tentativa de violar o livre exercício jornalístico e o sigilo à fonte. ‘Não é impossível que o governo Bolsonaro tenha buscado saber quais eram as fontes dos jornalistas antes da publicação de reportagens com assuntos que tinham relação com o governo. Como já sabemos que jornalistas foram espionados, é impossível não fazer esse tipo de associação. E acreditamos que, ao abrir as informações e sabermos a dimensão do número de profissionais ilegalmente espionados, poderemos precisar o dano causado pelo bolsonarismo à democracia, à livre circulação de informações e ao livre exercício profissional de nossa categoria’, comenta Thiago.

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Essa não é a primeira vez que ações do Governo Bolsonaro e seus aliados violaram os direitos dos profissionais da comunicação. Samira, relembra o inquérito 4874, que trata das milícias digitais. Nele se empreende a tese de que o ex-presidente Jair Bolsonaro, atentou contra a liberdade de imprensa, e buscou, durante seu governo, desacreditar o trabalho jornalístico como estratégia inicial de atacar as instituições. ‘Nesse sentido, a existência de uma ‘Abin Paralela’ que espionava e jornalistas, corrobora com a tese de que esses profissionais eram monitorados para alimentar o gabinete do ódio, e esse gabinete, por sua vez, para fazer o trabalho de desacreditar na imprensa profissional juntamente com o próprio Bolsonaro, seu filhos políticos, seus ministros e seus assessores. Então a gente vê uma forte ligação nisso tudo e é preciso que essas informações venham à tona, para que a gente possa compreender como operava todo esse esquema e qual era o objetivo dessas pessoas em atacar a liberdade de imprensa.’, pontua a presidenta da FENAJ.

Desdobramentos

Espera-se que a possível divulgação da lista de jornalistas vítimas da arapongagem exercida ilegalmente possa acarretar a responsabilização das pessoas envolvidas no ato criminoso e que atenta à constituição, como comenta Samira de Castro, ‘Uma eventual espionagem paralela da Agência Brasileira de inteligência caracteriza uma afronta as prerrogativas dos jornalistas, como a garantia do livre exercício profissional, a liberdade imprensa e do sigilo da fonte. É por isso que essas entidades estão entrando com esse pedido de informação, para compreender e salvaguardar – no sentido de que não ocorra mais atos como estes- os direitos constitucionais que posso ter sido maculados com essa espionagem paralela.’

Outra possibilidade, neste sentido, é a responsabilização da União pela violação de direitos destes profissionais da comunicação, como destaca o advogado Raphael Maia, da coordenação do departamento jurídico do SJSP e responsável pela elaboração da petição enviada ao STF. ‘É muito grave a possibilidade de que jornalistas possam ter sido espionados de forma ilegal, colocando em risco a garantia profissional do sigilo das fontes. Caso as suspeitas se confirmem, a União deverá ser responsabilizada civilmente pela violação das prerrogativas profissionais e da intimidade dos jornalistas espionados.’

SJSP, FENAJ e ABI pedem ao STF a divulgação da lista de jornalistas que foram espionados por ‘Abin paralela’ - Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo