Este é o resumo do artigo de 10 páginas que apresenta o conteúdo de nossa palestra realizada na Rodada de Discussão “Como inserir a Bahia na economia espacial”, ocorrida no dia 11 de setembro de 2023, no contexto do Projeto Pensar a Bahia promovido pela SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia) para impulsionar o desenvolvimento da Bahia. Para assistir o vídeo de nossa palestra realizada juntamente com a Professora Leka Hattori, acessar o website <https://www.youtube.com/
1) A necessária transformação da economia baiana.
Em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia, que era o sexto maior do país, perdeu participação no ranking nacional, sendo superado por Santa Catarina e Distrito Federal, caindo para a 8a posição. A agropecuária da Bahia vai bem porque é o maior produtor de grãos do Nordeste. Um quarto de todo Produto Interno Bruto da Bahia vem dos negócios do campo. A Bahia é o Estado brasileiro com maior potencial mineral inexplorado e, portanto, objeto de interesse de grandes empresas mineradoras internacionais. O turismo na Bahia vai bem porque as atividades turísticas na Bahia foram as que mais cresceram no Brasil em maio de 2023 na comparação com o mesmo mês de 2022. O aeroporto de Salvador se consolidou como o principal portão de entrada de estrangeiros na região Nordeste. A Bahia se mantém líder nacional na geração de Energias Renováveis no Brasil. No entanto, a indústria da Bahia vai mal ao apresentar fortes recuos no segmentos de produtos químicos e de papel e celulose. O setor industrial é o que requer maior atenção do governo da Bahia pela queda nele registrada que ainda persiste. O setor industrial vem perdendo participação na formação do PIB em quase todos os estados brasileiros, com a Bahia liderando a queda e sua indústria “encolheu" de 27,1% do total do PIB, em 2010, para 21,5% em 2018 e 21,8% em 2019. A Bahia sofreu um processo de desindustrialização com a perda de competitividade da indústria petroquímica e a saída da Ford que deixou um rastro de desemprego e devastação na economia de Camaçari.
Para sanar o processo de desindustrialização da Bahia, é preciso que o governo da Bahia desenvolva um programa de reindustrialização da Bahia atraindo novos investidores para reativar a indústria petroquímica e de papel e celulose, mas também, desenvolver novas atividades industriais como o da fabricação de carros elétricos que está em curso, bem como promover a implantação de indústrias voltadas para atender o setor aeroespacial com o desenvolvimento da economia espacial na Bahia diante de suas perspectivas bastante positivas. Além de promover a reindustrialização da Bahia, o governo do Estado deveria adotar, também, as estratégias seguintes: 1) propor ao governo federal a execução de 1012 obras federais paralisadas no Estado; 2) propor ao governo federal a realização de investimentos na integração da bacia do Rio São Francisco com as bacias dos rios do semiárido baiano e a implantação de açudes nesta região para solucionar sua escassez hídrica e promover a superação de seu subdesenvolvimento ; 3) executar novas obras públicas de infraestrutura econômica (energia, transporte e comunicações) e infraestrutura social (educação, saúde, habitação e saneamento básico) utilizando recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal; 4) atrair investidores para expandir a produção mineral e o parque produtor de energias renováveis solar e eólica na Bahia; 5) incentivar o incremento do potencial turístico da Bahia; 6) promover a substituição de importações da Bahia atraindo investidores; 7) desenvolver um robusto programa de implantação de indústrias de pequeno e médio portes no interior do Estado; e, 8) promover o desenvolvimento da economia espacial na Bahia para colaborar no processo de reindustrialização e incrementar o desenvolvimento da Bahia.
O desenvolvimento da economia espacial na Bahia poderia contribuir para atrair investimentos privados nessa área diante das perspectivas positivas no mundo para o setor espacial cujos investimentos podem atingir mais de US$ 1 trilhão de dólares já em 2040. O setor espacial é reconhecido por ser um dos setores mais transversais e de maior valor agregado existente. Diversos países têm realizado investimentos nessa área como forma de promover seu desenvolvimento socioeconômico. Também é importante mencionar o aumento da participação privada resultando em uma mudança brusca da dinâmica desse setor que anteriormente só contemplava investimentos governamentais. O governo passa a definir os requisitos de alto nível enquanto, a indústria estatal e a privada passam a ter a responsabilidade de definir o método para atingir o objetivo proposto. As mudanças são tão intensas que as empresas privadas, que antes não atuavam no setor espacial porque não conseguiam prever oportunidades de lucros, passaram a realizar investimentos por conta própria visando a criação de novos produtos e mercados para os próximos anos. É oportuno observar que o setor espacial envolve os segmentos de manufatura de satélites e componentes, veículos lançadores como foguetes espaciais e espaçonaves, segmento de solo e aplicações, há também questões associadas à inovação, transferência de tecnologia e educação, que tornam esse setor o mais transversal e mais complexo dos setores econômicos.
As atividades espaciais compreendem uma dinâmica complexa de agregação e de geração de valor. Incluem inovação tecnológica, demandam infraestrutura específica e entregam produtos de alto valor agregado à sociedade. Esse processo movimenta outras cadeias econômicas e gera valor em diversos mercados distintos do setor espacial. Muitas iniciativas na área espacial assumem papéis indutores de outras atividades econômicas. Por isso, cada uma dessas vertentes demanda soluções de fomento específicas. Compreender essa concatenação é a base para construção de políticas públicas eficazes que permitam o investimento no setor espacial. É importante ressaltar o valor estratégico desse campo de atividade econômica. Os países que investem no setor espacial entendem que este setor pode ser um impulsionador de seu desenvolvimento socioeconômico. Eles entendem que, pela transversalidade do processo de inovação, o setor espacial consegue envolver praticamente todos os setores da economia. Por isso faz sentido investir no setor espacial, porque indiretamente está investindo também em todos os outros setores econômicos do país. O desenvolvimento no Brasil de uma indústria e tecnologia espacial contribuiria ao lado de países mais avançados para enfrentar o desafio de colonizar outros mundos, mas contribuiria, também, para o desenvolvimento econômico e social do País. O Brasil está bastante atrasado no desenvolvimento da indústria aeroespacial. No Brasil, o Estado de São Paulo concentra a maior parte da estrutura voltada para o desenvolvimento da indústria e tecnologia espacial.
O desenvolvimento do setor espacial na Bahia contribuiria para a elevação do seu PIB com a produção de bens e serviços da indústria e tecnologia espacial se o governo da Bahia decidir atuar no setor. Cabe observar que o investimento no setor espacial tem crescido nos últimos anos. Em 2008 apenas 49 países investiam no setor espacial. Em 2018 esse número aumentou para 72 países. Em 2020 são 79 países investindo neste segmento que tem como os cinco principais investidores os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Japão e a França. Há expectativa que até 2040 os investimentos na economia espacial atinjam o valor de U$1 trilhão e o mercado, apenas de veículos lançadores, chegue em algo próximo de U$20 bilhões até 2030. A perspectiva de crescimento para todos os segmentos da economia espacial é muito positiva. Em 2018, foram gastos cerca de U$70 bilhões pelas agências governamentais espaciais de todo o mundo. Deste total, os Estados Unidos lideram com investimentos de cerca de U$ 40 bilhões. Em segundo lugar figura a China com investimentos de U$5 bilhões, depois o Japão e a França, ambos com investimentos de U$3 bilhões cada. O Brasil, por sua vez, investiu em 2019 cerca de U$120 milhões no setor espacial.
Por que investir no setor espacial é importante? Respostas para tais perguntas podem ser dadas por meio de quatro grandes benefícios: 1) Benefícios de inovação oriundos do desenvolvimento de tecnologia espacial; 2) Benefícios ambientais diretos oriundos de aplicações espaciais; 3) Benefícios econômicos oriundos da exploração de serviços e aplicações espaciais; e, 4) Benefícios relacionados com a criação de condições para salvar a humanidade da extinção resultante de ameaças internas e externas ao planeta Terra. Por “benefícios de inovação” entende-se a geração de inventos que têm impacto direto para o cidadão, facilitando sua vida ou reduzindo o tempo gasto com tarefas desnecessárias. Por "benefícios ambientais diretos” compreende-se a geração de informação atualizada e precisa sobre o meio ambiente, o que inclui a previsão de estados futuros de tempo e clima. Por “benefícios econômicos” entende-se a geração de empregos e riqueza pela criação de novos processos de produção. Por “benefícios para salvar a humanidade da extinção” inclui a adoção de soluções baseadas na ciência e na tecnologia visando a fuga de seres humanos para outros planetas ou luas do sistema solar ou exoplanetas fora dele, no caso em que a existência da humanidade como espécie for ameaçada com sua permanência no planeta Terra, com a ocorrência da colisão sobre o planeta Terra de corpos vindos do espaço sideral (cometas, asteroides, planetas do sistema solar e planetas órfãos), o esfriamento do núcleo do planeta Terra com o comprometimento do campo magnético terrestre que nos protege de ameaças vindas do espaço, a Terra ser atingida pela emissão de raios gama com a explosão de estrelas supernovas, do contínuo afastamento da Lua em relação à Terra e o comprometimento de seu meio ambiente, da morte do Sol, da colisão das galáxias Andrômeda e Via Láctea e com o fim do Universo. A sobrevivência da humanidade como espécie depende do desenvolvimento científico e tecnológico do setor espacial.
2) O potencial de elevação do PIB baiano com a produção de bens e serviços inseridos no contexto do setor espacial
Considerando os estudos mais robustos, uma estimativa para a taxa de retorno agregada para os países participantes da Agência Espacial Europeia (ESA) se situa entre 3,0 a 4,0 vezes (direto) e 6,0 a 12,0 vezes (indireto) em relação ao investimento realizado. Essas taxas podem ser consideradas como uma taxa anual. É de se esperar que os retornos, diretos e indiretos, dos investimentos realizados no setor espacial possam gerar muitos benefícios para os outros setores econômicos. Foram aplicadas estas taxas para os projetos financiados pela AEB (Agência Espacial Brasileira) durante o ano de 2020 referentes ao impacto direto, da ordem de 3 a 4 vezes e ao impacto indireto, da ordem de 6 a 12 vezes nas mesmas bases das adotadas pela Agência Espacial Europeia (ESA). No Brasil, para o caso do impacto direto, em um cenário mais conservador (considerando o efeito de 3 vezes para cada R$ investido) os investimentos totais realizados em 2020, na ordem de R$ 57.544.822,00, geraram um retorno de R$ 172.634.466,00. Para o caso do impacto indireto, o retorno para o cenário conservador (considerando o multiplicador de 6 vezes por cada R$ investido) somou R$ 345.268.932,00. Esses impactos medem os efeitos gerados pelo investimento no setor espacial em outros setores econômicos, que não o espacial. Dessa forma, sendo conservador, o total investido pela AEB em 2020, gerou um efeito total de R$ 517.903.398,00. Isto significa dizer que o PIB da Bahia poderá ter grande potencial de elevação se houver investimentos no desenvolvimento do setor espacial.
3) Como inserir a Bahia no setor espacial
Estamos vivendo hoje a era do “New Space”, o “Novo Espaço” da exploração orbital e além. Na década de 1990, o setor espacial começou a evoluir com grande velocidade. Surgiram novas tecnologias de lançamento de foguetes, equipamentos orbitais cada vez mais leves, com maior capacidade de serviço e vida útil mais longa. Em meados da década de 1990, surgiram as primeiras redes de micro ou nanosatélites em órbita baixa que fornecem serviços globais de telecomunicações. Existem hoje vários consórcios transnacionais lançando ou se preparando para lançar suas próprias constelações de satélites em órbita não geoestacionária, isto é, quando estes são colocados em uma órbita circular em torno da Terra tal que a sua velocidade de rotação não é a mesma da Terra. Desde o começo deste século, o mercado de satélites vem se tornando cada vez mais atrativo para a iniciativa privada, com empresas e conglomerados de vários países investindo fortemente na produção de satélites, foguetes lançadores e uma imensa variedade de sistemas essenciais para o funcionamento desses equipamentos orbitais. Muitos países que não dispõem de bases espaciais ou recursos financeiros para lançar satélites estão ganhando com o desenvolvimento de softwares, células de energia, blindagem contra a radiação e baixas temperaturas do vácuo espacial, chips e circuitos para sistemas de telecomunicações e muito mais.
Atuar no mercado do setor espacial, “New Space”, é uma grande oportunidade para a Bahia reativar sua debilitada economia na era contemporânea. A Bahia deveria implantar um cluster espacial no Parque Tecnológico da Bahia similar ao Cluster Aeroespacial Brasileiro, que é um Arranjo Produtivo Local, sediado no Parque Tecnológico de São José dos Campos (PqTec) no Estado de São Paulo que abriga mais de 100 companhias de diferentes regiões do país, promovendo a sinergia entre as empresas do setor aeroespacial brasileiro, bem como sua competividade nacional e internacional. No desenvolvimento do setor espacial na Bahia, é preciso adotar as medidas descritas a seguir:
. O governo do Estado deveria montar uma estrutura de coordenação das ações visando o desenvolvimento do setor espacial da Bahia com a participação da Secretaria do Planejamento, Secretaria de Ciência e Tecnologia, Secretaria de Minas e Energia, Federação das Indústrias da Bahia, UFBA e UNEB.
· A estrutura de coordenação deveria planejar todas as ações visando o desenvolvimento do setor espacial na Bahia.
· O governo do Estado deveria se articular com a Agência Espacial Brasileira visando a implantação na Bahia do setor espacial.
· O governo do Estado deveria se articular com a Federação das Indústrias da Bahia (FIEB) e o SENAI-Cimatec visando o desenvolvimento da indústria espacial na Bahia.
· O governo do Estado deveria celebrar acordo de cooperação com o Parque Tecnológico de São José dos Campos no Estado de São Paulo visando a implantação na Bahia do setor espacial.
· O governo do Estado deveria utilizar o SENAI-Cimatec e o Parque Tecnológico como locais onde desenvolver projetos de pesquisas visando o desenvolvimento do setor espacial da Bahia.
· O governo do Estado deveria celebrar acordo de cooperação com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Laboratório de Estruturas Leves (LEL), o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (CTA), o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), o Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI) e o Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (Ipev).
· O governo do Estado deveria se articular com a UFBA e UNEB visando a oferta de cursos de engenharia espacial na Bahia para formar recursos humanos qualificados na área espacial.
· O governo do Estado deveria captar recursos junto à FINEP para o desenvolvimento de projetos de pesquisa e ao BNDES para investimentos no setor espacial da Bahia.
· O governo do Estado deveria fazer com que o setor de produção mineral da Bahia busque produzir minérios estratégicos que sejam utilizados na fabricação de foguetes, sondas e satélites espaciais.
Pode-se afirmar que o desenvolvimento do setor espacial na Bahia contribuirá, não apenas para sustar o processo de desindustrialização com a implantação da indústria espacial, mas também, para desenvolver ainda mais o setor de produção mineral baiano que se articularia fortemente com o setor espacial porque a Bahia é o principal produtor de minérios do Nordeste e vem avançando as pesquisas visando o desenvolvimento dos minerais portadores de futuro, entre eles lítio, grafite para grafeno e nióbio. Todos são importantes e estratégicos no desenvolvimento tecnológico de produtos como baterias para veículos elétricos, celulares, fibra óptica e indústria espacial. A Bahia produz vanádio que é utilizado na indústria, principalmente em metalurgia, onde é adicionado a ligas para obtenção de aços especiais. Quando combinado com crômio, níquel, manganês, boro, tungstênio e outros elementos, é usado na produção de aços de carbono com alta resistência. Recentemente, houve a divulgação da descoberta de uma mega reserva de alumínio entre Nazaré e Itacaré, ou seja, do sul do Recôncavo ao norte da região cacaueira, passando por todo o baixo sul da Bahia. Mesmo com novas adaptações e o uso de novas ligas metálicas, o alumínio continuará sendo o metal mais utilizado na indústria aeroespacial. Ligas de titânio são aplicadas na indústria aeroespacial devido à leveza e resistência do material. Ligas leves e resistentes de titânio são utilizadas na fabricação de peças para motores, foguetes e aeronaves. A Bahia é produtora de cobre, titânio e poderá ser, também, de alumínio com o aproveitamento da mega reserva de alumínio descoberta recentemente.
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